A progressão narrativa do primeiro longa de Robert Eggers, A Bruxa, insinuava algo que se confirma com esse O Farol: a encenação parcimoniosa da primeira metade da obra, aparentemente (porém muito superficialmente) em conversa com as principais tendências do cinema arthouse para festivais, era atropelada, na hora seguinte, por um emaranhado de ideias histéricas e confusas, que faziam aquela atmosfera cuidadosa soar apenas como mais um artifício calculado para atribuir validação artística ao filme. Ou, nas palavras do colega de Eggers na A24, Ari Aster, fazer A Bruxa soar como uma legítima obra do elevated horror dos anos 2010, tendência da qual hoje talvez seja o principal representante.
O Farol inicia com essa mesma necessidade por validação artística, exaltando agora um novo conjunto de referências que vão do cinema mudo expressionista a artistas do Leste europeu (aquele cheirinho de wanna be Cavalo de Turim exalado a cada rajada de vento). A máscara, porém, demora ainda menos a cair: não leva mais que 15 minutos para entendermos que Eggers pouco tem a produzir a partir dos elementos que elege para dar corpo à história (a masculinidade frágil, os mitos marinhos, a natureza, o farol, a solidão, a loucura, a luz), demandando um esforço imenso para construir diálogos e situações entre as personagens e jogar os recursos estéticos disponíveis no liquidificador, devolvendo-os às imagens sob mais um vômito de histeria. Estão lá todas as habituais pegadinhas dos cineastas sem o menor senso de fantasia, empenhados em criar ilusões que mantenham o espectador interessado em procurar algo que pode existir detrás das imagens, e apelando para soluções que conservem esses mistérios distantes do olhar (os famosos movies about nothing).