O heroísmo como acidente de percurso do cidadão comum, aquele mesmo cidadão que não se priva de mostrar no dia a dia seus traços de sociopata. A reação repressora da máquina estatal, suas falsas verdades promovendo crises, injustiças e violência.
Algo que permanece comigo é o quanto a frontalidade da encenação provoca uma sessão incômoda, num nível físico mesmo. Richard Jewell senta em sua poltrona e assiste Janela Indiscreta, um dos filmes definidores e definitivos sobre a solidão da testemunha desmoralizada. Ao herói desmoralizado de Clint, reserva-se durante toda a jornada essa mesma posição de orador ao qual ninguém confere credibilidade, porém dessa vez à frente das câmeras – ao contrário do L. B. Jefferies, que olha o mundo através das lentes e usa o flash como auto-defesa. Provindo do extra-campo, cada flash disparado durante as cenas de cerco à casa de Jewell tem o efeito de um tiro. Quem é o cidadão comum produzido por esse Estado? Qual é a contribuição da mídia para formá-lo?
Corta, e lembramos das reações inflamadas e equivocadas ao Sniper Americano, filme que pede uma revisão crítica urgente.
“Temo mais o governo que os terroristas”.