Cops (Buster Keaton, 1922)

Na primeira imagem de Cops (1922), vemos Buster Keaton e seu par romântico separados por uma grade. A opção pelo plano fechado nos induz a acreditar que o personagem está preso em uma cela, mas o plano seguinte logo desfaz essa impressão. As barras entre eles pertencem ao gradil de um parque, e o que realmente impede o homem de ficar com a sua amada não é uma privação física, mas outra, abstrata: a falta de dinheiro. Keaton está falido e ela só aceitará casar com alguém que tenha recursos financeiros. Na cena seguinte, ele consegue dinheiro em um golpe do acaso, mas essa grana, após uma sucessão de mal entendidos, acaba deixando-o mais distante do seu objetivo. 

Cops eleva as relações sociais mediadas pelo capital ao plano do absurdo, de modo a tornar o filme uma síntese de ideias temáticas e estéticas desenvolvidas por Keaton em seus filmes de curta-metragem da primeira fase da carreira (1917-1922), com a máquina do capitalismo industrial criando obstáculos cada vez maiores para a felicidade humana. As confusões geradas pelo dinheiro envolvem situações onde a compra e o roubo se confundem, ou se tornam uma coisa só. O dinheiro e as mercadorias passam de mãos em mãos, não necessariamente na ordem exata e pelas mãos de quem deveriam passar. 

A situação conduz o filme a uma das sequências mais memoráveis da carreira de Keaton, na qual o personagem invade um imenso desfile policial e, após ser confundido com um rebelde, é perseguido por um número incontável de policiais, que vão se acumulando na imagem até que a polícia se transforme em uma grande massa de corpos irracionais, perseguindo Keaton desenfreadamente pelo cenário urbano. O desfecho da sequência explica a adoração dos surrealistas pelo cinema de Keaton (Buñuel, Breton e Dalí são admiradores confessos de sua obra), uma ideia delirante materializada com brilhantismo.

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