Otto Preminger perseguiu durante alguns anos os direitos para adaptar o best seller Advise and Consent, escrito por Allen Drury, finalmente transformando a adaptação em um dos pontos altos da sua fase dos “temas sérios” em meados dos anos 1960, período no qual dedicou-se a analisar o funcionamento de instituições vitais para a sociedade norte-americana – a justiça, o governo, o militarismo, a igreja.
A obra se debruça sobre os meandros da política governamental, retratados num passeio entre corredores, salas e saguões do Congresso em Washington. Entretanto, se este e outros filmes do diretor seguem tão impressionantes, é justamente por não se limitarem à representação burocrática de seus temas ou do ambiente filmado, extraindo suas principais virtudes da relação entre a matéria e a forma.
No caso de Tempestade Sobre Washington, a força vem do modo como Preminger aproxima, por meio de uma encenação sublime, os mecanismos da política institucional aos do próprio mundo do entretenimento – ou, em outros termos, do próprio ato de encenar, de lançar no mundo verdades em forma de mentiras e mentiras em forma de verdades. A principal semelhança entre Hollywood e Washington, afinal, é que em ambas “as pessoas sabem que você está mentindo, e também sabem que você sabe que elas sabem”, como alguém diz a certa altura do filme.
Por esta perspectiva, olhamos para o Congresso como um grande cenário montado, e aos políticos como peças de um jogo cujo desfecho já está previsto nas linhas de um papel amarrotado e guardado no fundo de alguma gaveta. Independente do que aconteça, a certeza que fica é a de que, na política ou no show business, as pessoas são sempre descartáveis e substituíveis, enquanto os meios e os fins se preservam intocáveis.