Repulsa ao Sexo (Roman Polanski, 1965)

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O olho de Catherine Deneuve preenche o quadro por completo no plano de abertura de Repulsion, enquanto a câmera projeta-se em movimento a partir da sua íris. Embora remeta à impressionante abertura de Vertigo, a imagem logo revelará um ruído frente à representação da Musa e da mulher admirada por um olhar outro, como visto em Hitchcock. Com a aproximação entre a câmera e o olhar da protagonista, Polanski chegava à Inglaterra e ao cinema do ocidente justamente para propor uma fissura, um deslocamento do olhar. Se os mais conceituados mod murders dos anos 1960 (Peeping TomBlow Up) representavam a Swinging London de um ponto de vista predominantemente masculino, sob mediação evidente e indispensável dos dispositivos cinematográficos (a câmera como instrumento mortífero em Powell, como objeto fálico em Antonioni), em Repulsion o dispositivo é imergido na subjetividade do olhar acossado de Deneuve para projetar-se em imagens surreais, fundadas sob uma perturbadora intersecção entre os delírios da mente assediada e as formas e movimentos do mundo exterior que provocam-lhe o horror. Filme pesadelo, como costumou-se dizer, menos pela própria potência das imagens, que oscilam entre o imaginativo e o excessivamente descritivo, mais pelo destino inescapável inscrito na condição da protagonista, que ao reprimir seu próprio desejo acaba fatalmente entregando-se à pulsão de morte.

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