Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, 2016), de Mel Gibson
Pacotão Mel Gibson completo, com todas as suas virtudes e excessos. Mas a intensidade com que os primeiros passos daqueles homens na guerra são recebidos por nós, com uma profusão delirante de balas perfurando corpos, cadáveres putrefatos mergulhados na lama e um gore muito explícito, garante a longa sequência de batalha do filme – em especial a primeira batalha, até que os combatentes se recolham pela primeira vez – como um dos melhores momentos dessa temporada do Oscar.
Filhos do Medo (The Brood, 1979), de David Cronenberg
Parte do meu problema com esse neociclo de horrores domésticos com dramas maternais alegóricos se intensifica diante de um filme como The Brood. Cronenberg não teme o desafio da autoria frente ao objeto/discurso, não se esconde detrás de alegorias ou truques ou pedagogias bem intencionadas, mergulha mesmo no delirante pesadelo da materialização da ficção através da forma e das imagens. Se boa parte dos filmes do gênero faria do terapeuta ensandecido não mais que uma ameaça antropológica, aqui a parada é séria: pela terapia as dores ganham vida, a cura ganha corpo(s), braços, sede de sangue, as emoções se convertem em violência carnal. Cronenberg não precisa de mais que quatro ou cinco planos para erigir um universo de morte muito palpável, e ao invés de artimanhas e turning points espertinhos, toda a ação encaminha-nos para um fim de doloroso e inevitável enfrentamento.
Resident Evil 6: O Capítulo Final (Resident Evil 6: Final Chapter, 2017), de Paul W. S. Anderson
Começa com uma frenética coleção de set pieces ágeis de ação, mas aos poucos vai murchando e abraçando cada vez mais um esquematismo narrativo típico de capítulo final de franquia. Bate uma decepcçãozinha, até porque o tratamento dessa resolução dramática não chega ao nível do próprio Anderson em um Pompeii, e os recursos visuais das cenas de luta no final me soaram um tanto estranhos (aquelas projeções mentais da ação deslocadas e subaproveitadas, por exemplo, além da própria localização da ação no espaço claustrofóbico). Curto esse retorno a uma estética suja e grotesca, mais próxima dos games e do filme original, mas depois de Afterlife e especialmente Retribution lançarem a série num segmento de ação digital que potencializava e ressignificava o uso do CGI, fica soando um filme mais acomodado e convencional.
Tempestades da Alma (The Mortal Storm, 1940), de Frank Borzage
Borzage busca essência humana numa sociedade corrompida por ideologia e violência. Ficção anti-nazista bastante dura no retrato do período, mas o melhor é justamente como atravessa esse registro para chegar à potência dramática devastadora do ato final.
Toni Erdmann (Toni Erdmann, 2016), de Maren Ade
O filme foi me conquistando no mesmo ritmo em que o performer/pai seduz a filha para entrar em seu jogo de encenação, até converter-se em completa entrega – dela e minha – na hora final. A fluidez com que os esquetes se articulam e a noção de fluxo de cena da Ade são bem impressionantes. Um tour pela própria essência do humor.