No Cineplayers, além das notas atribuídas aos filmes vistos, temos a opção de escrever breves apontamentos em até 250 caracteres pra acompanhá-las. O post reúne dez dos últimos comentários inseridos, respeitando a limitação imposta pelo recurso do site (exercício de síntese demoníaco e fadado ao fracasso), picaretagem que pretendo repetir a cada dez comentários escritos como nova tentativa de dar algum sentido a esse espaço (o risco deste ser o primeiro e último post é iminente, claro).
Destaque para o francês Pierre Étaix, cuja até então inédita obra chegou ao Brasil de surpresa em uma mostra integral promovida em diversas capitais pelo CCBB. Um artista que merece toda atenção.
Os Amores de Pandora (Pandora and the Flying Dutchman, 1951), de Albert Lewin
Mitologia, literatura, pintura, poesia, filosofia, intrigas, corridas de automóvel, touradas e a bela Ava Gardner. Compêndio artístico impressionante, potencializado pela encenação de Lewin e seus planos que preenchem o quadro sempre de forma maravilhosa. Nota: 9.0 (não é citação à AjudaLuciano)
Yoyo (idem, 1965), de Pierre Étaix
A instituição que rui e se restabelece dentro de uma curva natural do capitalismo, com a arte emergindo como redenção em tempos de crise. É a obra-prima de Étaix, um tratado de amor ao espetáculo que o vai do circo à televisão, do teatro ao puro cinema. Nota: 8.5
Dilinger Está Morto (Dillinger è morto, 1969), de Marco Ferreri
Antes da crítica social, o que cativa em Dillinger Está Morto é a ambientação cotidiana que parte de algo tão banal – homem cozinhando seu jantar – e como esta ação tão simples vai sendo engolida por uma atmosfera nonsense que nos submerge no delírio. Nota: 8.5
Enquanto Tivermos Saúde (Tant quon a la santé, 1966), de Pierre Étaix
Sob amargo riso, o retrato de um mundo que, tal qual uma cobra, pica o homem para oferecer-lhe a cura com seu próprio veneno. A tela de cinema que engole Étaix para o universo publicitário é um gesto de resistência possível somente através da comédia. Nota: 8.5
Os Irmãos Cara de Pau (The Blues Brothers, 1980), de John Landis
O amor pela música e o prazer de torrar milhões de dólares financiados pelo estúdio em destruições gigantescas conduzem este filmaço de John Landis, num nível de insanidade cartunesca que encontra similaridade apenas nas grandes obras de Keaton e Edwards. Nota: 8.5
Sonha, Meu Amor (Sleep, My Darling, 1948), de Douglas Sirk
Quando a realidade firma-se como um indissipável delírio, à superfície da imagem resta apenas conformar-se com a herança do falso como única verdade possível. Um deliciosamente perverso jogo de enlouquecimento sustentado com maestria por Douglas Sirk. Nota: 8.0
Feliz Aniversário (Heureux anniversaire, 1962), de Pierre Étaix
Do cruzamento entre o humor vaudevilliano de Buster Keaton e a crítica sagaz à modernidade de Jacques Tati surge essa pérola de Pierre Étaix, curta com uma sucessão de gags hilariantes sobre uma cidade adoecida que impede o homem de chegar à sua esposa. Nota: 8.0
O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014), de Wes Anderson
Do retorno ao passado, Anderson extrai uma metanarrativa que explora potencialidades de um mundo inteiramente sustentado pelas liberdades da fábula e da memória. Uma brincadeira com gêneros e estereótipos que transforma a História num insano cartoon. Nota: 7.5
Grande Amor (Le grand amour, 1969), de Pierre Étaix
Singela história de amor e sonho filmada após o mais radical e pessimista filme de Étaix, Enquanto Tivermos Saúde. Inevitável citar a bela sequência onírica em que o protagonista percorre estradas do interior da França em sua cama com a mulher que deseja. Nota: 7.5
Vic + Flo Viram um Urso (Vic + Flo ont vu un ours, 2013), de Denis Côté
Atmosfera lúgubre de um quase anti conto de fadas, com um relacionamento lésbico entre duas ex-prisioneiras servindo de base para uma história sobre possessividade, liberdade e passado, infelizmente mal resolvida e com um ato final meio grotesco. Nota: 6.0
BudapeZzzZzte 😛