Noite de sexta chuvosa em Paris. A paralisação do transporte público deixa as ruas intrafegáveis, congestionadas por filas quilométricas de automóveis. Em torno deles circulam pessoas sem tempo ou disposição para trocar olhares – ou, em casos mais extremos, que tratam grosseiramente uma mulher segundos antes de acariciar seu cachorro. O colapso da modernidade emerge em Vendredi Soir neste ambiente inóspito em que uma senhora transita à procura de pulsação e oxigênio – uma Paris em clima de canção dark de synthpop, filmada com cores desbotadas, umidade e reflexos de néons publicitários. O abundante uso de closes sugere à personagem uma solitária clausura rompida apenas quando abandona as ruas da cidade para visitar um quarto de hotel barato com o desconhecido com quem flerta na rua. Não sabemos quem são, o que fazem, o que desejam ou esperam do outro. A Claire Denis interessam apenas a nudez, os beijos e corpos entrelaçados. É na vitalidade do orgasmo que o filme atinge seu clímax, e o que antes eram barreiras, restrições de campo na imagem, converte-se em intimidade e sorrisos. Pois, diante das distrações e dos obstáculos do novo mundo, é na fricção dos corpos nus que ainda experimentamos o mais legítimo gozo, momento em que gritos de desespero emudecem frente a um pequeno gemido de prazer.